sábado, 30 de maio de 2020

Sobre Cães e Lobos - 08





“AS PESSOAS SÓ IRÃO ENTENDER UMAS ÀS OUTRAS QUANDO SENTIREM A MESMA DOR”


A garota relaxava na banheira e estava perdida em pensamentos juvenis. Sentia que não era tão bonita quanto as outras mulheres, sentia admiração e pena por enganar Yuri e tinha sentimentos confusos sobre o Capitão Harada, qual o limite de uma admiração e uma paixão.

Quando mergulhou na banheira foi assombrada por pensamentos piores. Se lembrou da noite passada e na sucessão de mortes que ocorreu, incluindo execuções feita pela jovem. Sempre se sentia culpada após esses atos, mesmo sabendo que tinham um propósito, mesmo sabendo que fez isso para se defender. Odiava aqueles olhares, sempre tão tristes e sem esperanças.

Nessas horas tentava pensar como o irmão, o que Akira faria naquela situação. Mas quando treinava sempre lutavam contra super vilões malignos e infelizmente a realidade era bem diferente. Na guerra não existe lado bom ou mau, são apenas pessoas que fazem escolhas e defende essas ideias, morrendo por elas na maior parte das vezes. Só esperava estar fazendo as escolhas certas.

Akemi pulou de susto ao ouvir o cabo de vassoura quebrando e se encolheu ainda mais dentro da banheira. Ela reconheceu Yamada pela voz e ficou vermelha como um pimentão ao ver o rapaz nu na sua frente.

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Rapidamente a jovem desvia o olhar e tenta proteger o corpo da melhor forma possível. O homem senta num banquinho e ela  agachada dentro da água se posiciona estrategicamente de costas para o rapaz e mais próximo da toalha que trouxe para se enxugar.

Yamada estava bêbado, podia perceber pela voz arrastada e talvez com sorte a bebida e o vapor ajudaria a menina a se proteger. O rapaz a provoca, mas não percebeu ironia em sua voz.

- É claro que tomo banho, mas prefiro fazer isso sozinho.

Provavelmente ele tomaria o banho sentado, então por enquanto ela estaria segura na banheira? De qualquer maneira ela não poderia se levantar ou ele iria descobrir seu corpo feminino. Akemi mantém as costas apoiadas na borda da banheira e dobra os joelhos sobre o peito, até chegou a se encolher um pouco. Talvez a melhor maneira era aguardar Yamada terminar o banho sem alardes e enquanto estivessem de costas um para os outros estaria segura.

- Você se lembra de todos os rostos?? Digo… das pessoas que você já matou... - ela tenta iniciar uma conversa amena, pois sabia que o jovem gostava de se exibir em combate.

Se caso Yamada se aproximasse ela iria cobrir o corpo com a toalha e na pior das hipóteses, se ele estivesse bêbado o suficiente para tentar algo contra a jovem, ela socaria seu nariz, a dor do golpe iria ofuscar o rapaz por um minuto e a menina fugiria para ante-sala com a toalha cobrindo a frente do corpo.

Yamada cambaleava de bêbado, tropeçando nos menores desníveis do piso. O cheiro de álcool era possível de ser sentido de longe. Tão bêbado estava que nem percebeu a expressão de choque e de apreensão no rosto de Akemi. Sentou-se e começou a se lavar, esfregando com uma bucha a pele, até que ela ficasse avermelhada. Quando Akemi perguntou-lhe sobre se ele lembrava dos rostos dos inimigos que havia matado, ele a olhou com ar de deboche:

-"Oque? É por isso que você saiu de fininho da festa pra chorar no banho? Frouxo."- disse, com aquele meio-sorriso nos lábios que sempre deixa Akemi em vias de socá-lo.

Ela faz uma sutil careta ao ouvir esse comentário. Yamada sendo o Yamada. Mas não podia contar o real motivo e nem ser conhecido pela tropa como frouxo.

- "Claro que não... eu não estava me sentindo bem por causa da bebida."- Disse-lhe com rispidez, virando-lhe as costas.

Porém, Yamada a interrompeu, provavelmente nem tendo ouvido a resposta. E disse-lhe, com a voz arrastada de bebedeira, mas no tom sério de quem compartilha uma verdade grave:

-"Lembro. De todos eles. Mas eu não lamento. Eu não tenho tempo pra lamentar. Sabe o que eu penso quando lembro do rosto deles, Ishida? Penso que são pobres coitados. Que não nasceram maus, mas se tornaram maus. Por causa dessa era podre em que vivemos". Disse, baixando a cabeça e suspirando profundamente, enquanto largava a bucha e procurava o balde para jogar sobre si.

-"Ei, Ishida... Qual você acha que é a origem do mal?"- disse com a voz tão embargada pela bebida que mal era possível lhe compreender.

- "Humm... Todos estamos lutando por algo que acreditamos.  Nós do Shinsengumis e as pessoas que matamos não somos diferentes... todos sentem a mesma dor, raiva e revolta. O que nos diferencia é a escolha de nossas ações. "- Ela olha para a mão enrugada pela água - "Para mim o mal é como uma semente que cresce quando é regada pelo ódio, inveja e preconceito. Mas ninguém é bom ou ruim... já que todos temos a capacidade de nutrir esses sentimentos"- Akemi brincava com seu reflexo na água enquanto falava, e teve o reflexo de cobrir os seios com as mãos, mesmo estando imersa até o pescoço, quando viu que Yamada olhava para ela com o rosto sem expressão.

-"Ishida, a única coisa que te impede de ser uma garota é o seu pau."- disse subitamente, e riu tanto que engasgou e tossiu.

Akemi tinha ficado boquiaberta quando Yamada sugeriu a possibilidade dela ser uma garota, e corou como um pimentão quando Yamada se levantou, expondo mais uma vez sua nudez e, para desespero de Akemi, caminhou em sua direção e entrou na banheira junto com ela. Contudo, estava tão bêbado que nem olhou pra ela, apenas para o teto, enquanto falava.
E então, ele diz:

-"Um homem rouba pra alimentar seu filho que passa fome. Mas a pessoa de quem ele roubou acaba morrendo de fome depois. Quem é mau aqui? O ladrão? Nós, que impedimos o roubo? Ou esta era, que inunda o coração dos homens com desesperança e sofrimento, e faz neles florescer a maldade?"

Akemi ficou pensativa por alguns segundos, com medo de se mexer demais e Yamada acabar percebendo seu corpo feminino.

- "Não foi justamente por isso que nos alistamos !?  O governo japonês fecha os olhos ao sofrimento do povo e as pessoas desesperadas cometem loucuras. Tentamos colocar ordem nesse mundo caótico, mas isso não nos torna pessoas melhores do que o ladrão que busca sustento para sua família."- disse-lhe seriamente. Yamada sorriu um sorriso largo e deu-lhe um tapa nas costas inesperado, que fez arder a pele branca de Akemi.

-"exato! Meu garoto! É por isso, Ishida, que não podemos lamentar. Não podemos hesitar. Nós temos de caminhar no inferno. Pra proteger os fracos. Pra defender os indefesos. E pra eliminar imediatamente o mal."¹

E então ele fica de pé, expondo novamente seu sexo e fazendo Akemi corar mais uma vez e tentar desviar os olhos da nudez do colega. Ele ergue o punho e fala com a voz alta:

-"Uma era onde o coração dos homens esteja tão repleto de alegria que não haverá espaço pro mal! Onde nenhuma criança precise chorar de fome! Eu vou forjar essa era com essas mãos, Ishida! Você vai v--" e então ele vomita, de tão bêbado, e cai da banheira, apagado no chão.

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