quarta-feira, 3 de junho de 2020

Vento Divino - 09

Com a resposta de Nanami, Jhun apenas a observou indo embora... quando ela sumiu na multidão, ele disse em tom quase inaudível.

Jhun: Adeus, Nanami...

Aquele seria o fim derradeiro da história mal começada dos dois? Ele não sabia dizer... e nem conseguia entender as palavras e os sentimentos da Tigresa da Montanha. Ele então seguiu o seu caminho.
Antes de ir, ele parou em uma loja de peixes e comprou 4 pequenos baiacus.... cortou-os ali mesmo no balcão e extraiu o seu veneno para um frasco que carregava. Jhun não precisava comprar muita coisa, pois ainda tinha os equipamentos da missão. A Ninja-to estava envolta em um pano junto com a Wakisashi, ocultas como se fossem pedaçoes de bambu carregados por um viajante, assim como o arco e as flechas ocultos no mesmo.

Jhun tomaria uma diligência para a cidade de sua missão a encontrar o seu contato. Queria sair logo dali e chegar o mais rápido possível onde deveria estar. Não demorou muito... comprou ração para os dias de viagem, encheu seu cantil em alguma fonte da cidade e deu 2 moedas para um desafortunado na rua, pois ele se lembrava como era ser um coitado e que nem todo homem é responsável pelo que o destino o concede.

Nao passou novamente na estalagem, pois não queria arriscar-se a cruzar com Nanami de novo.... apenas seguiu o seu caminho, mas não conseguiu tirá-la de seu pensamento e o turbilhão de emoções que ela tinha e que ele não conseguia entender.

Talvez fosse aquilo mesmo.... um reles idiota. Mas ainda era um idiota extremamente mortal.

Os 534 quilômetros que separam Edo de Kyoto através da Nakasendo sempre foram um tradicional e severo obstáculo para os viajantes, que enfrentam curvas estreitas e pontes discutíveis por entre as montanhas. Porém, o viajante cansado é compensado pelas paisagens de tirar o fôlego, com folhas em uma explosão de cobre e vermelho colorindo os vales abaixo dos picos eternamente nevados, e pela brisa perfumada de caquis da montanha, postos pelos comerciantes para secar ao sol. Com os caquis secos, é feito um doce tradicional, recheado com nozes e coberto de açúcar, iguaria que atrai muitos dos peregrinos que precisam descansar os pés doloridos nas inúmeras ryokan¹ que existem no caminho.

Jhun era um rapaz vigoroso, no auge de sua forma física e excelente treinamento. As subidas e desníveis, mesmo da Nakasendo, seriam um desafio pobre ao vigor do rapaz. Mas, como o tempo urge, Jhun decidiu não economizar e tomou lugar em uma diligência rumo à capital imperial. Os outros passageiros (eram sete, no total) tinham boa aparência, e suas vestes sugeriam que eram todos de certo grau social, provavelmente comerciantes de sucesso ou mesmo nobres de baixa estirpe. Conversavam entre si com palavras articuladas em um sotaque característico de Kyoto. O tema era sempre amenidades. Uma viagem longa entediante a um homem de ação. O bambolejar da carruagem prosseguia constantemente por trechos de até quatro horas, quando o cocheiro parava em casas de chá para que os passageiros pudessem esticar as pernas, ir ao toalete e comer alguma coisa. Logo, a luz do sol começou a esmorecer conforme ele se deitava atrás das montanhas, e o cocheiro anunciou que passariam a noite em uma hospedaria à beira da estrada. Haviam opções, mas ele recomendava que ficassem na Hyoka-ya, que pertencia a uma família de confiança.

O lugar era uma cidadezinha pacata à beira da estrada, onde os nativos da região ofereciam seus produtos aos viajantes por preços atraentes. A hospedagem tinha um preço razoavelmente alto, mas que estava dentro do orçamento de Jhun, caso não houvessem contratempos até chegar na cidade. Ele também poderia optar em ficar em alguma hospedagem mais barata, com menos conforto.

Jhun passou o caminho quase todo em silêncio.... tirou um tempo para si em uma silenciosa reflexão sobre o que se passou com Nanami e pensou que, talvez, fosse melhor que o destino os separasse daquela maneira do que de maneira mais drástica, como um ensanguentado nos braços do outro. Era triste, mas era a realidade...

Ele não pôde deixar de pensar nos lábios carmim da moça quando viu o céu ou no perfume dela quando sentiu o cheiros dos caquis, porém, tentou tirá-la da cabeça como um estalajadeiro expulsa um bêbado o tanto quanto pôde... era meio impossível, mas não era crime tentar.

Durante a viagem na carruagem, Jhun manteve-se com a cabeça baixa e uma mão sempre na kunai escondida, como quem esconde uma dor de barriga... Isso porquê ele não sabia se teria inimigos ou engraçadinhos durante a viagem, mas ela mostrou-se calma e provou que o jovem era um pouco mais paranóico do que o normal. Durante todo o trajeto, ele só foi uma vez ao banheiro, mas não frequentou as casas de chá. Ficou hidratando-se com a própria água que trouxe em seu cantil, que recarregou em uma fonte na última cidade.

Quando chegou, o cocheiro indicou uma estalagem que parecia ser um pouco mais cara, porém, mais confortável.... Jhun preferiu uma estalagem mais simples e em conta. O jovem Shinobi não precisava de luxo e uma estalagem mais simples chamava menos atenção. Então ele foi até uma estalagem mais barata, cumprimentou o atendente e deixou algumas moedas no balcão... o suficiente por uma cama e uma refeição. Queria comer carne e arroz naquela noite.... a carne daria energia para ele, por conta da proteína e o arroz o daria a sensação de saciado.... pediu também um pouco de água e um copo de saquê para esquecer Nanami naquela noite.

Então, foi para o seu quarto e colocou a "segurança padrão" improvisada.... uma garrafa de vidro apoiada na porta e uma na janela, onde ambas quebrariam caso um dos dois locais fosse aberto. Deitou-se no colchão com os braços por trás da cabeça e ficou olhando para o teto e pensando no que deveria fazer... até ormir... ou que outra coisa acontecesse...

terça-feira, 2 de junho de 2020

A menina de Dança - 09

Após tomar mais um banho e preparar o café da manhã, Suzuka ainda estava repleta de pensamentos conflitantes sobre a noite anterior. Não sabia se deveria sentir alívio por ter sido salva, vergonha pela humilhação sofrida, raiva pela sua impotência, medo ou admiração pelo seu salvador... o misto de sentimentos e sensações pesava no peito da Geisha, tornando a respiração pesada. Sentia como se algo ardesse em chamas em seu abdome, como se o ar lhe faltasse, como se sua alma sangrasse. Queria chorar de novo, mas as lágrimas não vinham. Decidiu tocar seu Shamisen em busca de conforto. Talvez as notas adocicadas do instrumento tivessem o poder de transportar-lhe para paisagens mais floridas. O pensamento em sua mãe lhe trouxe alívio, até as batidas em sua porta.

Ainda estava em roupas de baixo, então não abriu a porta. Apenas perguntou quem era. Ouviu uma voz grossa e firme responder a sua pergunta, e sentiu um frio na espinha ao ouvir a palavra "Shinsengumi". Os Lobos de Mibu farejaram o cheiro do sangue, e agora estavam a sua porta. Devia ficar feliz? aliviada? Mas sentiu medo. Porque? Era uma vítima. O Shinsengumi era proteção, era segurança. Mas sentiu o peito apertar. Não queria abrir a porta, não queria ver aqueles homens. Porque se sentia assim?

O sorriso triste de Gensai lhe veio a mente. Ela queria protegê-lo? O assassino brutal que matara três homens ontem a noite, dois na sua frente. Mesmo assim, lhe era grata. Não pensava mais no ódio por trás dos olhos furiosos do samurais, mas apenas na ternura em sua voz. E o pensamento de que o Shinsengumi poderia usá-la para pôr fim a vida de Gensai deu-lhe um nó no estômago. Suzuka apertou os polegares em resignação. Assim como ele a havia protegido ontem, ela o protegeria hoje.

Entreabriu a porta para que pudesse ver os homens, e esses pudessem ver seu rosto. Ambos usam o uniforme azul celeste com detalhes em branco, com a faixa na cabeça que traz o ideograma para "Lealdade". Ambos carregam espadas na cintura. Um dos homens é baixo e careca, com braços musculosos e constituição sólida. Uma vigorosa barba enfeita seu rosto sorridente. O outro, também com um sorriso no rosto, mas mais felino, é alto e tem o cabelo penteado para trás e preso num coque, e mesmo assim mantém uma franja de aspecto esquisito, embora não seja um homem feio. Ele tem a constituição menor que a de seu parceiro, mas sua presença é bem mais poderosa. Os olhos do homem são impressionantes. Olhos de lobo. Penetrantes. Poderosos.

Em tom cordial, ele se apresenta como Hajime Saito, Capitão da Terceira Divisão do Shinsengumi. E diz que tem algumas perguntas que gostaria de fazer.

Suzuka sorri e acena com as mãos pedindo desculpas. Diz que não está decente, e pergunta se os samurais poderiam esperar um pouco. O careca fica levemente corado, e tosse sem graça. Mas Saito apenas sorri e pede desculpas pela intromissão. Ele a deixa se vestir. Suzuka rapidamente olha para os objetos sobre a mesa: uma pequena espada e a carta que Gensai havia deixado sobre o corpo de sua vítima. Ela toma algum tempo para guardar os objetos longe dos olhos de seus visitantes, e então pede-lhes para entrar e se sentar junto ao kotatsu¹ enquanto ela lhes serve um chá. Ambos agradecem a cortesia da geisha com uma reverência e tiram os sapatos ao entrar na casa de Ohgo.

Após todos estarem acomodados e servidos, Suzuka senta-se com eles junto ao kotatsu, e ouve Saito dizer-lhe que houve um incidente próximo à casa de chá onde a Geisha trabalha. Um assassinato triplo. Eles sabem que a jovem é uma geisha popular na casa de chá, e gostariam de saber se ela tem alguma informação. Suzuka sente as entranhas congelarem, mas seus anos de treinamento lhe permitem esconder bem seus sentimentos. Ela sente que os homens do Shinsengumi sabem mais do que revelam, e que existe suspeita por baixo da máscara de cortesia.

A gueisha pisca os olhos de longos cílios e sorri, baixando os olhos para seu copo de chá.

-"Senhores, não sei do que estão falando. Ontem estava indisposta e não fui trabalhar, assim como não irei hoje. Porém, mesmo que soubesse de algo, não poderia dizer-lhes, pois a discrição é o fundamento principal do meu trabalho. O que acontece nas casas de chá, não sai de suas portas."- ela diz, para em seguida dar um gole rápido em seu chá Jokisen.

Saito retira de seu quimono um calhamaço de papéis, que lê em silêncio. Os olhos dele cruzam os de Suzuka, que imediatamente sente sua pele se arrepiar. Ele pergunta se a moça esteve em casa o tempo inteiro durante a noite anterior, então.

A jovem geisha começa a sentir medo dos dois, com sua intuição gritando-lhe para tomar cuidado. De forma convicta, ela olha para os homens e mente, confirmando com a cabeça que sim, permanecera em casa.

Saito sorri, e pergunta se a moça lhe faria a gentileza de mostrar-lhe as mãos. De forma hesitante, e sem entender a razão do pedido, Suzuka estica as mãos. Ele agradece gentilmente a toma-lhe as mãos com delicadeza. As mãos de Saito são fortes, grandes e ásperas, mas ainda assim seu toque é delicado e gentil. Ele desliza a ponta dos dedos pelas palmas das mãos de Suzuka, primeiro abaixo do polegar, e então abaixo dos dedos mínimo e anelar.

Ele fica sério por um momento no qual parece refletir. E então troca olhares tensos com seu parceiro. Suzuka sente a preocupação se revirar em seu estômago, mas Saito lhe sorri e solta as mãos com a mesma gentileza que as havia tomado.

-"Você tem belas mãos, Ohgo-dono. São macias como apenas as de uma boa geisha poderiam ser."- ele faz uma reverência, e se levanta. Seu parceiro se levanta junto dele. -"Já sabemos tudo o que precisamos. Desculpe incomodá-la Ohgo-dono. Caso lembre de mais detalhes, por favor, procure a sede do Shinsengumi."- e vai junto com seu parceiro até a porta, onde levam alguns momentos para calçar suas sandálias.

Suzuka os leva até a porta, mas está inquieta. Ela sente nos homens do Shinsengumi um comportamento predador. Ela lembra do homem na noite anterior, e isso a deixa irriquieta. Não permitia-se confiar no Shinsengumi.

Antes de sair, contudo, Saito se vira, ainda com um sorriso no rosto. Mas esse Suzuka é capaz de perceber imediatamente a falsidade, como se o homem duelasse consigo mesmo ao pronunciar cada uma das palavras que disse:

-"Uma última colocação, Ohgo-dono. O nome do falecido nas portas da casa de chá era Shiori Kousuke-dono. Era um jovem mercador de apenas vinte e cinco anos. Ele deixou viúva sua esposa grávida de seis meses, assim como um filho de apenas cinco anos. A família pretendia se mudar para Edo no próximo mês, fazendo planos para o bebê vindouro. Uma terrível tragédia, a senhorita não concorda?".

A geisha balançou a cabeça, concordando. no fundo havia se comovido com a história, mas achava que Saito estava feliz com a situação, como um sádico. Não confiaria no Lobo de Mibu.

O olhar de Saito mudou quando seus olhos se cruzaram mais uma vez. Estavam mais frios. O sorriso deixou seu rosto.

-"O mal prospera quando as pessoas se calam e se omitem."-O Capitão da Terceira Divisão mantém os penetrantes olhos de lobo fixos nos olhos de Suzuka. E então, após um momento tenso, ele volta a sorrir. -"Mas, tomamos muito do seu tempo. Lamento muitíssimo. Por favor, aproveite o resto do seu tempo livre."

A frase "aproveite o resto de seu tempo livre" pairou um pouco no ar. Uma ameaça? Suzuka tinha ficado paranóica em relação a Shinsengumi, mas os rumores sobre Hajime Saito eram graves e sombrios. Era um homem justo, porém severo.

Assim, os homens viram as costas e vão embora, deixando Suzuka sozinha e preocupando-se com seus próximos passos.



¹- Mesa baixa de madeira, sob a qual há um braseiro. Geralmente, mas nem sempre, a mesa é ladeada por futons. Muito usado em períodos frios no Japão, uma forma graciosa de receber visitas.

²- Chá de alto teor de cafeína, muito popular na época.

segunda-feira, 1 de junho de 2020

Sobre Cães e Lobos - 09






“AS PESSOAS SÓ IRÃO ENTENDER UMAS ÀS OUTRAS QUANDO SENTIREM A MESMA DOR”


Apesar do receio de ter seu segredo revelado, ela e Yamada nunca tiveram uma conversa profunda como aquela. Talvez ele não fosse tão babaca quanto ela pensava, mas ele só estava falando tudo aquilo por estar extremamente bêbado.

Quando estavam sentados conversando a menina tinha em sentimento de igualdade. Naquele momento não era menosprezada por ser mulher e nem pela maneira que pensava.

Akemi levou um susto quando Yamada se ergueu de repente e corou ao encarar sua nudez. Mas ficou olhando seu rosto, já que ele falava tão empolgado. Chegou até sorrir com aquelas falas entusiástica.

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Mas o rapaz vomitou de repente e caiu deitado de bruços. Ela olha o estado lamentável que o homem estava por conta da bebida.

- Aisshhh….. - Disse amuada

Ela rapidamente enrola a toalha ao redor do corpo e sai da banheira, evita pisar no vômito e se aproxima do rapaz. Ele tinha desmaiado, iria avaliar se não havia nenhum ferimento. Se estivesse tudo bem com ele. A gatora iria para ante-sala se trocar e prenderia o cabelo num coque.

Ela volta para o banheiro com panos de limpeza e um roupão, que joga sobre o corpo do rapaz.

- Hey...Yamada, acorda…. - Cutuca o rapaz no ombro

Se ele não reagisse iria até o dormitório pedir ajuda, alguém teria que carregá-lo para a cama. Mas iria falar com os companheiros para serem discretos, afinal ninguém do pelotão iria querer ser punido pelo Capitão Harada.

Depois voltaria para limpar o vômito e esvaziar a banheira. Ela limpou no modo automático, pois já estava acostumada a fazer tarefas domésticas.

Já deveria estar amanhecendo, mas antes de deitar foi checar se Yamada está bem. Se ele tivesse dormindo deixaria descansando. Cansada Akemi iria procurar sua cama, talvez conseguisse cochilar por algumas horas.

Sons, Gostos e Cheiros - 09

-"Senhor, se o senhor falar rápido, eu não entender"- A moça parecia ter feito um esforço sincero para entender as palavras de Clement, aceleradas pela empolgação. Porém, no meio das perguntas, ela pareceu se perder completamente e passou a não entender nada. Ele mesmo parecia ter percebido que estava sendo confuso, mas a moça apenas sorriu. Uma gargalhada adorável. Clement sentiu que fazia anos que não ouvia uma mulher rir.

Os meses que havia passado no navio, havia passado na companhia apenas de homens. Mulheres dão azar em navios era como os marinheiros justificavam a ausência feminina no convés. De qualquer forma, a marinhagem era um trabalho árduo. O próprio Clement, que era mais passageiro do que tripulante, foi obrigado mais de uma vez a puxar cordas pesadas, rolar barris, carregar sacas de grãos... era um trabalho sacrificante. Clement imaginou que mesmo que fossem aceitas no navio, mulheres estariam fadadas ao serviço na cozinha. Mesmo o serviço de limpeza seria pesado e perigoso demais para elas.

Quando finalmente alcançaram a costa japonesa e lançaram âncora, a dias atrás, Clement descobriu que as nativas eram quase sempre muito sérias e sorriam apenas discretamente. Os japoneses eram um povo disciplinado, contido e discreto, em sua larga maioria. Nunca havia visto uma mulher japonesa dar demonstrações vívidas de alegria. E ao ver e ouvir Hana sorrindo e gargalhando na praia sob o sol, sentiu que uma de suas missões naquela terra distante, mesmo que uma das pequenas, havia sido atingida.

-"Já sei! Vamos até o res.tau.ran.te onde eu trabalho. Vou cozinhar algo gostoso para o senhor, como agradecimento. Comida japonesa."

"Que ótima ideia, entretanto não seria um problema um gaijin entrar no restaurante da sua familia ? É claro que nao me faltará modos, de maneira alguma, mas as vezes não somos bem recebidos. Vocês tem chá la ? Eu adoro chás.".
Colocando o chapéu sobre seu cabelo bem penteado novamente, ele faz um singelo gesto de companhia para que ela segure seu braço
" -Então, mostre-me o caminho"
Devolvendo finalmente aquele grande sorriso que mais cedo o surpreendeu, não era facil achar alguém que o fizesse perceber tais coisas mas essa moça tinha um grande livro em sua aura, e com certeza Clement estava curioso para lê-lo.
"A senhorita tambem poderia me mostrar alguma comida que eu possa comer sem ... Estar tão cru?" E com uma gargalhada ele espera seu aperto no braço para continuarem.

Ao ouvir Clement dizer que aceitaria ir para a casa dela, Hana ficou corada como um tomate. Uma mulher convidar um homem para a própria casa, no Japão, era um ato obsceno. Talvez ela tenha cometido um erro terrível ao tentar falar um idioma que não conhecia bem.

A moça se constrangeu e gaguejou, tentando explicar a Clement que havia cometido um engano, mas estava tão envergonhada que poderia chorar. Soltou uma enxurrada de palavras em japonês, em uma velocidade que Clement não tinha a menor esperança de compreender. A moça tinha medo do que o rapaz poderia pensar dela. Poderia achar que ela era uma qualquer, se oferecendo pra ele.

Mas logo a jovem se lembrou que estava conversando com um estrangeiro, e que as barreiras linguísticas e culturais que os separavam eram grandes. Acalmou-se, mas achou melhor esclarecer o mal-entendido de qualquer forma. Sorria de forma encabulada, e ainda tinha a face rosada pela vergonha quando lhe pediu desculpas e esclareceu tudo da melhor forma que pôde.

Quando o mal-entendido fora resolvido, retomaram sua caminhada pelo cais. Hana sorriu quando Clement lhe ofereceu o braço, e pegou seu braço de forma tímida. O toque da moça era delicado, e ela tinha mãos tão pequenas que Clement ficou parecendo um gigante ao seu lado. Conversaram sobre amenidades enquanto caminhavam ilha adentro. A jovem perguntara a Clement se ele gostava de frango. O rapaz sentiu uma fisgada no estômago quando imaginou a possibilidade de ser obrigado a comer frango cru, mas logo Hana gargalhou e lhe explicou que nem tudo o que comiam era cru, e que iria preparar Kaarage, que era um tipo de frango empanado e frito em óleo, com uma farinha e um tempero especial, preparados com sake, gengibre e especiarias. Ela disse que sabia que estrangeiros adoravam comida frita, e pensou que ele gostaria disso. Disse-lhe também que havia uma variedade de chás disponíveis para que ele apreciasse, e que ela recomendava-lhe expressamente que experimentasse o chá Oolong, especialidade da casa. Contou-lhe que era um chá que ficava entre o chá verde e o chá preto, mas que tinha o sabor mais parecido ao do verde, mas sem o gosto floral típico do chá verde.

A moça se sentia tão empolgada em falar e mostrar as coisas para Clement quanto Clement era empolgado em ouvir e conhecer coisas novas. Ambos descobriram ser uma companhia muito agradável ao outro, mesmo que tenham andado juntos por um caminho tão curto.

O restaurante onde a moça trabalhava não tinha nome na placa, como era costume dos restaurantes japoneses de Dejima. A placa de madeira entalhada que adornava a entrada discreta mostrava apenas uma flor de lótus roxa sobre fundo marrom, revelando um duvidoso senso estético de seu pintor. Clement esperava que Hana tivesse um senso artístico mais apurado do que o do entalhador da placa.

O lugar era pequeno. Apenas meia dúzia de mesas se espremiam em um espaço estreito que mais lembrava um corredor do que uma sala. Além de Hana, apenas outra moça vestida em trajes tradicionais japoneses servia as mesas. Não estava muito cheio, apenas uma das mesas estava ocupada.

Mas, o que chamou a atenção de Clement foi um velho piano de madeira, empoeirado num canto do restaurante. Parecia que ninguém mexia nele a séculos.

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Vento Divino - 09

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