domingo, 31 de maio de 2020

Vento Divino - 08

Jhun aguardou Nanami sair... em sua cabeça, ele tinha claro que Nanami apenas queria desculpas para estar certa. "Mulheres"... talvez ela nunca entendessem como homens eram cegos ou burros... ou as duas coisas. Alguns homens, como Jhun viviam apenas para o clã. Sua visão sobre o que acontecia aquém daquilo era muito opaca. Porém, como todo homem, ele demorava muito a perceber tudo o que estava acontecendo.

Quando Nanami saiu, ele deixou o seu sunomono e saiu atrás dela. Seguiu ela por um quarteirão ou dois depois da hospedaria, quando já estariam um pouco longe da mesma e então, ele chamou o seu nome.

Jhun: NANAMI!

Se ela não virasse ou não o ouvisse, ele aceleraria o passo e tocaria em sua mão... mesmo sob a ameaça de perder a mão... mas confiaria de tocar com delicadeza e sem desafiá-la... e de não estar na presença de outros. Mas tentaria conseguir a atenção dela...

Jhun: Nanami... eu não me despedi de você. Não importa o ódio ou desprezo que você esteja sentindo por mim por qualquer razão que seja, mas me deixe terminar...

Ele suspirou e continuou.

Jhun: Antes de toda missão, eu sempre penso se esta poderia ser a última... e você é o mais perto que eu tenho de uma família. Sempre antes de uma missão, meu primeiro e último pensamento é você. Porque você me criou como uma irmã... me ensinou muito do que sei... e cuidou de mim em muitas situações que outros não cuidariam.

Olhou nos olhos dela e disse.

Jhun: Eu nunca poderia falar isso na frente de outros... porque... porque você sabe o quanto qualquer tipo de sentimento nos nubla. Mas... se esta for a minha última missão e se eu morrer nela pelo nosso clã, não quero encontrar meu fim sem ter dito ao menos uma vez que... que eu a amo, Nanami... Não como irmã... mas como mulher e como o ser humano mais incrível que eu já conheci. E ver toda essa sua força... sua determinação... e saber que eu não seria capaz de protegê-la e cuidar de você... bem, talvez isso me amedronte. Isso e saber que, como fomos criados como irmãos, este sentimento nunca seria bem visto pelo nosso clã.

Ele esticou um dos braços e puxou um pouco a manga.

Jhun: Meu coração é seu, Nanami.... sempre foi. Mesmo que isso seja proibido... e minha mão também, se você ainda quiser cortá-la. Mas eu referia perder todos os membros do meu corpo a perecer em uma missão sem dizer a você o que sinto... ou sabendo que você nutre qualquer coisa ruim sobre mim. Você está certa... eu sou um idiota... um idiota por me deixar levar por um sentimento que nosso clã proibiria. Por favor... guarde esse meu segredo e leve o meu amor consigo. Ou faça o que quiser com ele.

Terminou com uma última olhada nos olhos dela e disse.

Jhun: Adeus... Nanami.

O jovem Shinobi decidiu arriscar tocar a Kunoichi mais uma vez, a despeito dos avisos anteriores da moça. Contudo, ele encontrou pouca ou nenhuma resistência dessa vez. Nanami reduziu o passo rapidamente ao toque de Jhun, e quando se virou, o shinobi viu que os olhos muito verdes da moça agora estavam quase azuis, tomados pelas lágrimas que escorriam pela face da morena até pingar do queixinho.

Ao invés da esperada reação violenta, Nanami supreendeu Jhun, e se aproximou do rapaz, recostando a cabeça dela sobre o peito dele, escondendo o rosto da visão do jovem, assim como suas lágrimas. Jhun fica sem reação. A jovem Kunoichi sente os braços do rapaz tremerem quando ele a abraçou, tentando confortá-la.

Ela ouviu pacientemente tudo o que o Shinobi tinha para dizer, sem levantar o rosto para encará-lo. Talvez para não permitir que ele a visse chorar em seus braços. Mas, quando Jhun verbalizou a sua declaração, Nanami o empurrou instintivamente, se afastando dois passos, como se tivesse sido golpeada. Por vários segundos, ela apenas abriu e fechou a boca, como se não conseguisse decidir o que falar, com os olhos agora claros como a água do rio arregalados em choque.

Até que, após alguns momentos de reflexão silenciosa e batalha interna, a moça parece se decidir e fecha o semblante. E o Shinobi consegue enxergar a indignação nos olhos da morena.

-"Amor? Você me ama? Jhun, você nem ao menos tenta me compreender!"- ela bate o pezinho no chão, de forma adorável. Jhun sente o ímpeto de abraçá-la novamente, e dá um passo em direção à moça, mas é parado por uma firme e impiedosa mão espalmada, que o obriga a manter distância.

-"Eu não consigo te compreender, e acho que isso é o que há de belo em você. Você é um turbilhão. Um tsunami de emoções. Eu não compreendê-la não quer dizer que eu não tente, Nanami!- O jovem diz, com a inexperiência cobrando seu preço.

Os olhos de Nanami se escurecem conforme as lágrimas secam e dão lugar à fúria esmeralda. Ela lembra bem de como se sentiu insultada na hospedaria a troco de absolutamente nada.

-"Você me rebaixa. Me equipara a uma puta qualquer de esquina que usa o corpo pra chamar atenção. Que amor é esse, Jhun? Que julga? Que condena? Que inferioriza? Que amor é esse que não te permite me olhar nos olhos e ver algo além do meu corpo? O que eu fiz pra não merecer ser levada a sério? Desculpe por ter cometido o crime terrível de ser uma mulher bonita!"- A fúria nas palavras da morena é crescente. A frieza na voz da moça cresce a cada sílaba que ela profere, carregada de mágoas antigas das quais agora Jhun tornara-se o avatar.

-"EU? Nanami... Eu sou o único que a enxerga além disso! Quando pedi que você se vestisse foi porque eu sei que os outros te enxergam como nada além disso. Não, você não tem culpa da sua beleza, nunca terá. Eu... eu não consigo me fazer compreender por você. Eu olho você nos olhos, e sabe o que vejo?- o Shinobi sente os olhos arderem e começa a ele próprio a conter suas lágrimas agora. -"Vejo a pessoa que quando cheguei na vila, após meus pais serem mortos, seu avô disse para cuidar de mim. A pessoa que me pegou pela mão, me alimentou. Me mostrou onde dormir. E, quando eu tinha pesadelos, eu podia ver a sua sombra por trás da sua porta, zelando por mim. Eu vejo a pessoa que se preocupava. Eu não sei quando comecei a te amar, Nanami. Mas com certeza não foi pelo seu corpo ou seus olhos. Eu aprendi a amá-la pelo seu espírito, força... e vontade de fazer o bem."- Jhun desviou o olhar da moça. -"Me perdoe se meu sentimento a ofende. Mas ele é sincero. Ele talvez seja a coisa mais sincera que você já teve na vida."

Nanami se sentiu estapeada. Jhun continuava com sua sessão de julgamentos, pré-conceitos e pressuposições acerca das intenções de outras pessoas. Ela deus mais dois passos para trás, abrindo os braços de forma irônica enquanto falava com a voz em uma risada de raiva e indignação.

-"Um tanto pior! Adivinha só, Jhun? Eu não preciso de proteção. Eu não fiquei bonita ontem, sabe? Eu convivo com a minha beleza a anos. E não sou estúpida. Eu sei quando um homem me deseja. Eu sei que todos eles me desejam. E sei me cuidar. Não vou deixar de fazer as coisas que gosto de fazer e nem de ser quem eu sou porque vocês não conseguem conter suas ereções infantis! E, se você me ama, deveria me compreender e cuidar de mim. E não me maltratar e me culpar pelas atitudes de outros!"- Ela apontou o dedo acusador para Jhun enquanto falava, e novamente bateu o pé no chão, pontuando as sentenças que ela julgava que precisavam de maior ênfase ou que a deixavam particularmente indignada.

-"Eu sei que você não precisa de proteção. Mas o que posso fazer? É minha natureza proteger os que amo! Eu não posso fazer nada contra isso... e eu compreendo você sim. Droga, Nanami! Eu falo e você não me escuta! Você sabe o quanto eu admiro e respeito seu jeito e sua forma de ser, eu compreendo! Eu... eu não tenho como argumentar com você. Desde que nos conhecemos, você sempre esteve certa. As suas palavras podem ser duras, mas as suas lágrimas não mentem. Eu posso sim ser o idiota que você diz, e você pode me distanciar como você fez. Mas isso não vai mudar as coisas. No fim, um de nós abriu o coração, e outro não. O destino vai se encarregar de dizer quem estava certo."- E então o shinobi ergue o papel que o convocava ao dever, mostrando-o para a moça. -"Eu não sei se voltarei dessa missão com vida, Nanami.. mas deixo aqui com você o meu amor. Você decide o que fazer com ele."- Jhun se afastava mais dois passos da moça. A distância entre ambos era cada vez maior.

Nanami abraça a si mesma e desvia o olhar, como se estivesse insegura de suas próprias respostas. Ela fala com amargura e com tristeza na voz.

-"Palavras, Jhun. São vento. O que você fala é diferente do que você faz. De como age. Você não me ama, Jhun. Como seria possível? Você nem ao menos tenta me entender. Você apenas me deseja, como todos os outros. E está tudo bem, eu posso entender. Mas por favor, apenas me respeite."- a voz da moça falhava enquanto ela dizia essas últimas palavras, e os olhos novamente se clarearam quando ela não pôde segurar mais uma lágrima.

Agora foi a vez de Jhun se sentir estapeado. Ele levanta o rosto, com os olhos marejados.

-"Como pode dizer isso? Assim... como pode?"- a voz do Shinobi então fica dura e rígida. -"Tem razão, Nanami. Eu apenas a desejo. Você não é nada além de um corpo belo."-- Não havia qualquer tom de sinceridade na voz dele, apenas de concordância. Como quem acha que brigar mais apenas aumentaria a mágoa entre ambos. Se era aquilo que era queria ouvir, ele lhe diria aquilo. Porque o amor que sentia por ela era maior do que a vontade de tentar convencê-la de algo.

-"Me desculpe pelas minhas idiotices. Espero que nos vejamos de novo, nessa ou em outra vida."- Ele passou por ela, e quando estava ao lado dela, parou. Timidamente, as pontas de seus dedos tocaram os dedos dela, como se quisesse sentir uma última vez aquele toque macio. Mas a Tigresa da Montanha sabia ser implacável, e cruzou os braços. E disse, mesmo engasgando de tristeza ao segurar as lágrimas que queriam voltar a jorrar:
-"Adeus, Jhun. Você vai ficar bem."-
e então ambos viram as costas um pro outro, e caminham em direções opostas.

A menina que Dança - 08

O coração tem uma morte lenta. Perde-se a esperança como as árvores perdem as folhas, uma a uma. (Chiyo)




Na alvorada do dia, algumas pessoas passam apressadas nas ruas de Kyoto, o dia já havia começado para elas, pessoas sem rosto, sem nome e cada uma com suas historias e batalhas. Os primeiros pássaros já começavam a cantarolar nas janelas e arvores, avisando a todos que a noite dera o seu lugar para o dia,  o aroma dos chás sendo preparados perfumavam o ambiente, a cidade acordava. Mas no interior de uma simples casa, em uma esquina qualquer daquela cidade, encontrava-se uma pequena mulher, que teve seu coração e todo o seu ser destruído na noite interior, estava deitada e encolhida em posição fetal que se não fosse o suave respirar poderia acreditar que aquele corpo não tinha vida, afinal sua alma fora dilacerada. 





Depois de algumas horas  do amanhecer Suzuki despertou, seus pequenos olhos puxados abriram-se para o mundo e a mesma resolveu levanta-ser do seu futon. Ainda nua caminhou para o grande espelho que encontrava no seu quarto, que muitas vezes se trocava ali, ensaiava seus passos de dança, se maquiava se tornava a geisha que todos admiravam ali naquele espelho, mas hoje, naquela manhã, não reconhecia aquela mulher que a encarava, passou a mão em torno do seu corpo, acariciando cada pedaço do mesmo, tocando delicadamente em seus seios, na sua boca, na sua barriga.  Seu  corpo branco parecia a neve da sua cidade natal que por um instante foi quase tocado por alguém desconhecido e não merecedor de tal privilegio, seu cabelo comprido preto, cor da noite, caia sobre pelo seu corpo,  seu brilho, seu cheiro ... tudo era seu e fora tocado por alguém nojento e asqueroso. Tudo aquilo lhe pertencia, mas sentia que foi invadida e o bile daquela noite a deixava enojada e indefesa.





Caminhou para a cozinha e colocou a água para esquentar, precisava de outro banho, precisava se reencontrar. Enquanto a água esquentava Suzu preparava omelete e um chá Jokisen para seu café da manhã, estava sem apetite, mas precisava comer, precisava manter-se em pé. Após se alimentar pegou a água quente e jogou na banheira, jogou alguns sais minerais e pétalas de rosa, e entrou, ficou ali até a água esfriar, enrolo-se no seu kimono e seguiu para sua mesinha, penteou seu cabelo com sua escova dourada e toda desenhada a mão que ganhara de sua mão um pouco antes de saido de casa, escova que fora da sua bisavó, que fora da sua mãe e agora era tua, e naquele momento o sentimento de saudades tomou conta do seu coração, então Suzu fechou os seus olhos e se viu uma garotinha com os olhos vivos e alegres, sentada em um banquinho que não alcançava seus pezinhos no chão, e sua mãe tão doce e jovem penteava com todo carinho o cabelo daquela garotinha , cantando as mais belas canções, depois fazia duas tranças e prendia com fita de cetim vermelha e as duas iam passear nos campos verdes e ficavam caçando borboletas. Suzu sentia falta da sua mãe, da sua família, abriu a gaveta e pegou um papel de arroz, um pincel e um nanquim e escreveu para sua mãe e família, dizendo a todos o quanto sentia a falta de cada um, o quanto a cidade era bonita, como as arvores das cerejeiras enchiam os olhos de tanta beleza, o quanto se divertia nas casas de chá  e o quanto estava avançando no seu aprendizado. Mas não mencionou nada do que tivera acontecido com ela na noite anterior, não queria deixar seus pais preocupados e com sede de vingança. Precisava lidar com isso sozinha. 





Aquele dia não queria treinar, pois geralmente depois do café Suzu costumava treinar suas apresentações da noite, separava sua roupa, organizava sua casa, preparava seu almoço, meditava, estudava e se preparava para ir trabalhar, mas naquele dia não queria trabalhar, ainda não estava em condições de alegrar alguém, ouvir os problemas de alguém, sendo que ela mesmo estava destruída, era a própria tristeza encarnada. Mandaria um recado para casa de chá por um mensageiro dizendo que estava indisposta, ficaria ali no conforto da sua casa decidindo o que deveria fazer em relação a tudo que presenciou, em relação ao caráter do Gensai que na mesma noite mostrou um assassino a sangue frio e um herói de mocinhas indefesas, olhava para a espada e o bilhete ali na sua mesinha, há deixava na duvida e ao mesmo tempo criara um sentimento bom que nem mesmo ela conseguia entender. Não sabia se deveria procurar a policia, não sabia se seguiria a sua vida e manteria o ocorrido em segredo no seu intimo e deixasse a vida julgar e decidir por ela as pessoas envolvidas. Uma das lições que aprendera sendo geisha é o que se escuta no salão, fica no salão, que devemos ser discretas e guardadoras de segredo, então deveria guardar  o ocorrido da noite anterior, mesmo sendo uma cena criminosa? Suzu estava em conflitos, então naquela tarde tarde  decidiu meditar e tocar seu shamisen para dessa forma conseguir se reencontrar e decidir qual seria seus próximos passos. 


sábado, 30 de maio de 2020

Noite Carmim - 08

O homem olhou longamente Toshiro, enquanto o retalhador mantinha-se em silêncio. Até que ele suspirou e deu de ombros.

-"Silencioso, pra variar. Bom, suponho que tipos como você sejam de fato os melhores pro trabalho. Se anime, em breve teremos algo grande pra você."

E em seguida ele lançou um saco de moedas sobre a mesa, que continha o generoso soldo semanal de Toshiro. A quantia havia sido aumentada, "como retribuição aos bons serviços prestados", como o homem informou. O valor permitia a Toshiro ter os confortos esperados da classe dos samurais, mesmo que fosse uma situação rara hoje em dia.

Dois dias se passam, com Toshiro levando sua rotina de treinos adiante. Manter corpo e mente afiados era algo tão importante quanto manter aguçado o fio da espada.

Na falta de locais de treinamento discretos apropriados, Toshiro mantinha seus treinos físicos dentro da Hikari-ya, seja em seu quarto, seja no pequeno jardim de inverno que a pousada possuía nos fundos. Era um improviso que comprometia muito do desenvolvimento do treino, mas a ordem de manter a discrição impedia Toshiro de realizar sua rotina completa em locais públicos.

Quando Toshiro voltava para casa, após uma rotina de treinos particularmente puxada, decidiu tomar o caminho wue acompanhava o rio, por achar que a brisa abrandaria o calor do esforço e secaria-lhe as roupas molhadas de suor.

Foi quando notou Asami na rua principal. A jovem herdeira dos Hikari aparentemente estava em compras, e enfrentava dificuldades em carregar os pesados baldes de sal e missô. E negociava ferozmente com um comerciante na rua a respeito de uma saca de arroz.

Toshiro ao ver Asami Hikari trabalhando, com os baldes nos ombros, o suor escorrendo pela testa e as rodelas de umidade perto das axilas acredita que ela terá dificuldade para chegar em casa. Não que não chegue, certamente chegará. No entanto o bushido fala de compaixão e em ajudar aos outros. Estaria aquela negociação sendo mais demorada que o necessário?
      -- Asami-san, está negociando produtos de qualidade? Pediu um desconto para esse arroz? Toshiro sabia que qualquer comentário assustaria Asami pois a mesma não esperava encontrar com ele ali, nem mesmo que um samurai desse atenção para ela fora do ambiente de trabalho. Deveria Toshiro ajudar Asami com suas tarefas? Não parecia adequado, no entanto a negociação deveria ser adequada e rápida já que o mercador podia ver o desafio que sua cliente enfrentava para carregar a mercadoria. Para Toshiro havia compaixão com o próximo ao esclarecer para o mercador que deveria ser rápido em sua negociação para evitar o sofrimento de seus clientes.

       Ao olhar nos olhos de Asami-san as memórias de Toshiro o faziam se lembrar de que fazia muito tempo que não tinha uma mulher em seus braços.

-"Oh, Yamamoto-dono! Olá"- Asami sorriu ao ver Toshiro se aproximar, e o cumprimentou com uma breve reverência. A moça corou quando o samurai ofereceu-lhe assistência em suas tarefas, e agradeceu-lhe de forma hesitante, em clara dúvida sobre se seria apropriado aceitar ajuda de um homem de classe superior à dela. Porém, seus irmãos não puderam ajudar-lhe, e estaria em apuros para levar até a ryokan as pesadas compras que fizera. Sal e missô eram volumosos e pesados, e representariam um esforço excessivo à pequena Hikari Asami.

Finalizaram rapidamente as negociações. O comerciante se intimidou com a presença do samurai e forneceu um desconto maior à moça, que sorriu, feliz. Conversaram sobre amenidades no trajeto de retorno à pousada. Toshiro sentia as palmas da mão arderem conforme o cânhamo da corda -que era mais fino do que devia. a corda devia estar gasta e necessitando ser substituída- arranhava-lhe as palmas das mãos enquanto carregava os baldes de madeira que continha as pedras de sal e os fardos de missô. Sentiu que não eram tão pesados para seus braços fortes, mas que o peso aumentava conforme caminhavam e seus braços se cansavam. Pensou que era um excelente treino físico para seus braços e quadris. Chegou a se questionar silenciosamente se não deveria ajudar mais a moça. Era um treino decente e uma companhia agradável.

Quando se aproximaram do Ryokan viram o jovem Hikari Touda, irmão de Asami, conversando alegremente com uma moça. Estava explicado o atraso do rapaz em ajudar a irmã. Conforme se aproximaram, o rapaz percebeu Toshiro e Asami se aproximando e se despediu da moça, correndo em direção à irmã.

-"Onee-chan¹! Perdão! Eu já estava indo ao seu encontro, não precisava incomodar nosso hóspede! Sinto muito, Yamamoto-dono!"- o jovem pediu licença ao samurai antes de aliviar-lhe a carga, pegando para si os baldes enquanto agradecia e pedia desculpas ao mesmo tempo, fazendo uma série de reverências. Asami repreendeu o irmão severamente e pediu desculpas à Toshiro. Perguntou-lhe então se gostaria de tomar um chá, e se havia algo que poderia fazer em retribuição à ajuda prestada.

Porém, Toshiro sentiu sobre si os olhos de um transeunte. Olhou de soslaio, e viu que era observado por dois homens do outro lado da rua. Ambos samurais, já que carregavam katanas. Conversavam entre si e tinham os olhos fixos em Toshiro.


¹- Tratamento dado a irmãs mais velhas.

Sobre Cães e Lobos - 08





“AS PESSOAS SÓ IRÃO ENTENDER UMAS ÀS OUTRAS QUANDO SENTIREM A MESMA DOR”


A garota relaxava na banheira e estava perdida em pensamentos juvenis. Sentia que não era tão bonita quanto as outras mulheres, sentia admiração e pena por enganar Yuri e tinha sentimentos confusos sobre o Capitão Harada, qual o limite de uma admiração e uma paixão.

Quando mergulhou na banheira foi assombrada por pensamentos piores. Se lembrou da noite passada e na sucessão de mortes que ocorreu, incluindo execuções feita pela jovem. Sempre se sentia culpada após esses atos, mesmo sabendo que tinham um propósito, mesmo sabendo que fez isso para se defender. Odiava aqueles olhares, sempre tão tristes e sem esperanças.

Nessas horas tentava pensar como o irmão, o que Akira faria naquela situação. Mas quando treinava sempre lutavam contra super vilões malignos e infelizmente a realidade era bem diferente. Na guerra não existe lado bom ou mau, são apenas pessoas que fazem escolhas e defende essas ideias, morrendo por elas na maior parte das vezes. Só esperava estar fazendo as escolhas certas.

Akemi pulou de susto ao ouvir o cabo de vassoura quebrando e se encolheu ainda mais dentro da banheira. Ela reconheceu Yamada pela voz e ficou vermelha como um pimentão ao ver o rapaz nu na sua frente.

Sobre Cães e Lobos Ca00a95feddc64d95469c6524794ad07-1

Rapidamente a jovem desvia o olhar e tenta proteger o corpo da melhor forma possível. O homem senta num banquinho e ela  agachada dentro da água se posiciona estrategicamente de costas para o rapaz e mais próximo da toalha que trouxe para se enxugar.

Yamada estava bêbado, podia perceber pela voz arrastada e talvez com sorte a bebida e o vapor ajudaria a menina a se proteger. O rapaz a provoca, mas não percebeu ironia em sua voz.

- É claro que tomo banho, mas prefiro fazer isso sozinho.

Provavelmente ele tomaria o banho sentado, então por enquanto ela estaria segura na banheira? De qualquer maneira ela não poderia se levantar ou ele iria descobrir seu corpo feminino. Akemi mantém as costas apoiadas na borda da banheira e dobra os joelhos sobre o peito, até chegou a se encolher um pouco. Talvez a melhor maneira era aguardar Yamada terminar o banho sem alardes e enquanto estivessem de costas um para os outros estaria segura.

- Você se lembra de todos os rostos?? Digo… das pessoas que você já matou... - ela tenta iniciar uma conversa amena, pois sabia que o jovem gostava de se exibir em combate.

Se caso Yamada se aproximasse ela iria cobrir o corpo com a toalha e na pior das hipóteses, se ele estivesse bêbado o suficiente para tentar algo contra a jovem, ela socaria seu nariz, a dor do golpe iria ofuscar o rapaz por um minuto e a menina fugiria para ante-sala com a toalha cobrindo a frente do corpo.

Yamada cambaleava de bêbado, tropeçando nos menores desníveis do piso. O cheiro de álcool era possível de ser sentido de longe. Tão bêbado estava que nem percebeu a expressão de choque e de apreensão no rosto de Akemi. Sentou-se e começou a se lavar, esfregando com uma bucha a pele, até que ela ficasse avermelhada. Quando Akemi perguntou-lhe sobre se ele lembrava dos rostos dos inimigos que havia matado, ele a olhou com ar de deboche:

-"Oque? É por isso que você saiu de fininho da festa pra chorar no banho? Frouxo."- disse, com aquele meio-sorriso nos lábios que sempre deixa Akemi em vias de socá-lo.

Ela faz uma sutil careta ao ouvir esse comentário. Yamada sendo o Yamada. Mas não podia contar o real motivo e nem ser conhecido pela tropa como frouxo.

- "Claro que não... eu não estava me sentindo bem por causa da bebida."- Disse-lhe com rispidez, virando-lhe as costas.

Porém, Yamada a interrompeu, provavelmente nem tendo ouvido a resposta. E disse-lhe, com a voz arrastada de bebedeira, mas no tom sério de quem compartilha uma verdade grave:

-"Lembro. De todos eles. Mas eu não lamento. Eu não tenho tempo pra lamentar. Sabe o que eu penso quando lembro do rosto deles, Ishida? Penso que são pobres coitados. Que não nasceram maus, mas se tornaram maus. Por causa dessa era podre em que vivemos". Disse, baixando a cabeça e suspirando profundamente, enquanto largava a bucha e procurava o balde para jogar sobre si.

-"Ei, Ishida... Qual você acha que é a origem do mal?"- disse com a voz tão embargada pela bebida que mal era possível lhe compreender.

- "Humm... Todos estamos lutando por algo que acreditamos.  Nós do Shinsengumis e as pessoas que matamos não somos diferentes... todos sentem a mesma dor, raiva e revolta. O que nos diferencia é a escolha de nossas ações. "- Ela olha para a mão enrugada pela água - "Para mim o mal é como uma semente que cresce quando é regada pelo ódio, inveja e preconceito. Mas ninguém é bom ou ruim... já que todos temos a capacidade de nutrir esses sentimentos"- Akemi brincava com seu reflexo na água enquanto falava, e teve o reflexo de cobrir os seios com as mãos, mesmo estando imersa até o pescoço, quando viu que Yamada olhava para ela com o rosto sem expressão.

-"Ishida, a única coisa que te impede de ser uma garota é o seu pau."- disse subitamente, e riu tanto que engasgou e tossiu.

Akemi tinha ficado boquiaberta quando Yamada sugeriu a possibilidade dela ser uma garota, e corou como um pimentão quando Yamada se levantou, expondo mais uma vez sua nudez e, para desespero de Akemi, caminhou em sua direção e entrou na banheira junto com ela. Contudo, estava tão bêbado que nem olhou pra ela, apenas para o teto, enquanto falava.
E então, ele diz:

-"Um homem rouba pra alimentar seu filho que passa fome. Mas a pessoa de quem ele roubou acaba morrendo de fome depois. Quem é mau aqui? O ladrão? Nós, que impedimos o roubo? Ou esta era, que inunda o coração dos homens com desesperança e sofrimento, e faz neles florescer a maldade?"

Akemi ficou pensativa por alguns segundos, com medo de se mexer demais e Yamada acabar percebendo seu corpo feminino.

- "Não foi justamente por isso que nos alistamos !?  O governo japonês fecha os olhos ao sofrimento do povo e as pessoas desesperadas cometem loucuras. Tentamos colocar ordem nesse mundo caótico, mas isso não nos torna pessoas melhores do que o ladrão que busca sustento para sua família."- disse-lhe seriamente. Yamada sorriu um sorriso largo e deu-lhe um tapa nas costas inesperado, que fez arder a pele branca de Akemi.

-"exato! Meu garoto! É por isso, Ishida, que não podemos lamentar. Não podemos hesitar. Nós temos de caminhar no inferno. Pra proteger os fracos. Pra defender os indefesos. E pra eliminar imediatamente o mal."¹

E então ele fica de pé, expondo novamente seu sexo e fazendo Akemi corar mais uma vez e tentar desviar os olhos da nudez do colega. Ele ergue o punho e fala com a voz alta:

-"Uma era onde o coração dos homens esteja tão repleto de alegria que não haverá espaço pro mal! Onde nenhuma criança precise chorar de fome! Eu vou forjar essa era com essas mãos, Ishida! Você vai v--" e então ele vomita, de tão bêbado, e cai da banheira, apagado no chão.

sexta-feira, 29 de maio de 2020

Sons, Gostos e Cheiros - 08

Hana parou de andar por um segundo, observando aquele rapaz alegre que caminhava a sua frente. Três anos se passaram desde a primeira vez que pisara em Dejima. A primeira vez que vira um Gaijin, sua sensação era de total repulsa. Eles não tinham modos. Comportavam-se como animais selvagens o tempo todo, como se disputassem entre si quem era mais grosseiro. Seu comportamento não possuía refino, não possuía delicadeza. Eram apenas demônios selvagens tentando impor seu domínio através da força e do medo. Ela gostaria de evitá-los, mas não podia. Apesar dos apesares, em um dia de serviço em Dejima ela conseguia receber o mesmo que em uma semana de trabalho fora dela. Os selvagens podiam ser selvagens, mas eram ricos.

Então, Hana persistia. Apenas sorria para as grosserias. Pensava em sua família, na necessidade que enfrentavam, e suportava toda sorte de indignidade nas mãos dos Gaijin. Se deixava levar pela maré, rogando aos deuses que lhe protegessem dos demônios de além-mar.

Hana odiava os Gaijin. Mas aquele homem.... corria pela praia como uma criança empolgada. Outro estrangeiro teria reivindicado seu corpo como espólio da vitória contra os outros selvagens. Mas aquele rapaz... falava de beleza e de curiosidade. Subitamente, a ilha Dejima lhe pareceu pequena demais. Ela nunca tinha notado o quanto a Ilha era minúscula. Esse rapaz lhe parecia, de alguma forma, diferente.

-"N-não ter nada interessante sobre minya vida, senhor. Minya famiria é dona de um... como chama? R-resutarantu? O lugar onde serve comida. É simpures, mas Kaa-san cozinya divinamente."- o rosto da moça subitamente se ilumina, como se tomada por lembranças das quais tinha muito carinho. Ela corre até a água cobrir seus tornozelos, enquanto aponta feliz para o outro lado do canal -"Olha! Da pra ver daqui!" - a moça finalmente parece ter alegria genuína e entusiasmo na voz, enquanto aponta para o outro lado. Clement jamais poderia dizer para qual das minúsculas construções a moça apontava. Mas era preciso admitir, o sorriso dela era uma paisagem realmente bonita de se ver.

Era Brilhante, o horizonte era belíssimo, era como ir a praia no verão quando menor, se lembra que nunca podia entrar na água primeiro que sempre estavam entre -5Cº e 15Cº mesmo no verão era difícil irem a praia mas ele adorava. O sol ja pairava por volta das 11:30 e estavam ali na praia ela apontava pra uma porção de borrões no horizonte, então ele só podia esticar a visão e tapar os olhos do sol enquanto sorria. A minuscula moça que havia encontrado alguns minutos atras se tornava uma flor desabrochando, enquanto levantava seu quimono para as leves ondas que batiam sobre seus pés, Ele gostava do que via, seu sorriso era singelo agora, agora sim via uma mulher digna de elogios e nao somente uma boneca maquiada.


Realmente era desperdício colocar aquele oxford recém engraxado em um monte de areai, então meio envergonhado tira os sapatos as longas meias pretas e se aproximou da moça enquanto ela olhava perdida ao horizonte, <-"Srta. Hana como é o Res.tau.ran.te da sua família? me conta qual a comida mais saborosa que fazem. vocês servem muitas comidas ? tem coisa estranhas aposto talvez algo que eu nunca comi, daquele lado tem muitos barcos pequenos, são pescadores locais ou atrás dessa imensidão ainda existem ilhas para comercio ? e o que mais ?"-> ele acelera a fala com empolgação esquece que falava com alguém que falava pouco inglês, então esperando uma cachoeira de respostas uma onda bate sobre seus joelhos o trazendo de volta a realidade e o fazendo perceber de sua empolgação descontrolada.

"Huunf, Huunf", limpando a garganta, ele para de falar e somente olha os detalhes de sua roupa, seu longo quimono parecia quente e ao mesmo tempo fresco, de que tecido seria, quanto tempo levaria para fazer, quanto custava sua mente era recheada de perguntas e as respostas estavam ali na sua frente sorrindo para o nada, onde os ventos balançavam os cabelos lisos e pretos, mesmo presos podia ver o coque lutando para se soltar e as pequenas madeixas soltas ao vento se uniam a uma leve franja delicada sobre sua testa, Hana era uma moça bonita e jovem, nao devia ser mais velha que ele. O que ela passara, o que havia do outro lado.

Vento Divino - 07

O chão estava salgado... ao menos foi isso que Jhun conseguiu aferir quando provou o gosto dele. Com os dentes rangendo pela dor do pulso torcido e uma gota de suor escapando da têmpora, Jhun apenas ouviu o que ela disse.

Quando ela partiu, Jhun sentou-se e massageou o pulso para espantar um pouco da dor. Ele olhou para Kojiro e sorriu.

Jhun: Não sei... mas sem ESSA eu poderia ter ficado.


Ele terminou de se arrumar e dessa vez saiu, sem dizer nada. Passou em frente ao quarto onde Nanami estava, parou... ergueu o pulso e... não bateu em sua porta. A irmã estava irritada ainda pelo visto. Seria melhor deixá-la só um pouco.

Ele desceu as escadas e perguntou pelo Sunomono que havia pedido. Sentou no canto mais distante e escuro daquela estalagem e comeu... mais depressa que o normal. Então, Jhun colocou o bowl em cima da mesa da estalajadeira e curvou-se agradecendo. Depois, colocou as moedas referentes à refeição e saiu pela porta da estalagem, visando aproveitar a noite, colocar as ideias em linha reta e tomar um pouco de ar puro, depois de tanto esforço físico.

Os outros irmãos de Jhun aguardaram os passos pesados de Nanami se afastarem escada abaixo para darem risadas do Shinobi. Logo o assunto deixou de ser a bronca e voltou a ser o sucesso da missão. Mas, a ordem de Nanami era o retorno à vila, então os membros do time foram se dispersando aos poucos, cada um visando cuidar de seus próprios assuntos, ou então apenas retornando imediatamente para a vila.

Jhun havia decidido comer na hospedaria antes de dar uma volta para espairecer. Enquanto ele estava mastigando seu sunomono com um pouco de chá, Nanami se aproximou da mesa do jovem. Ela ainda tinha a expressão severa, mas a faísca de ódio já havia deixado seu olhar.

-"Eu vou dar a você uma chance para se desculpar."- a bela shinobi disse, com os braços cruzados, ao lado da mesa de Jhun.

Mas, Jhun não esmorece sua determinação, e fala enquanto mantém o olhar no copo de chá.

-"Eu não preciso me desculpar, Nanami. Se eu, como irmão, não posso protegê-la ou aconselhá-la a se tornar alguém melhor, então o orgulho já venceu. Se um inimigo é mais fraco que você, porque lutar, se irá vencer? Se o inimigo é mais poderoso, porque lutar se irá perder? Se o inimigo é igual, ele compreenderá, e não haverá luta. Honra não é orgulho. É o reflexo que temos de nós mesmos, nosso mestre nos ensinou isso. Se eu e ele sabemos disso, porque você não?"

O shinobi olha finalmente para ela e diz:

-"Sinto muito, mas desculpas por algo que não foi errado, apenas pra alimentar seu ego, não te farão uma líder melhor. Você é uma irmã pra mim e eu a amo como tal, mas não posso colaborar com seu decaimento. Se um líder precisa lembrar aos outros pela força que é um líder, então o que ele é, Nanami?"- e então o Shinobi retorna os olhos à sua refeição, desviando o olhar da irmã.

-"Ele é alguém como o homem na platéia que nós matamos."- diz, levando uma rodela de pepino à boca de forma desinteressada.

Nanami tinha os braços cruzados e não interrompeu Jhun em momento nenhum, deixando-o à vontade para falar. Quando ele terminou, ela levou uma mão aos olhos, como se estivesse com uma terrível dor de cabeça, e apenas sacudiu a cabeça em desaprovação.

-"Você nem desconfia o que fez de errado, não é?
. Ela retorna a mão à posição de braços cruzados. Jhun pode sentir não mais raiva, mas tristeza na voz da irmã. -"Se você não sabe o que fez de errado, você é um idiota, Jhun. E eu não quero idiotas no meu time."


Ela descruza os braços e retira do bolso da calça que veste um rolinho de papel, como os que vêm nas patas de pombos-correio. Ela coloca o papel na mesa, ao lado do copo de chá do shinobi, juntamente com um cordão de moedas.

-"Essa mensagem acaba de chegar. É sua ultima missão conosco. Depois disso você vai ser transferido pra outro grupo. Aqui tem dinheiro pra sua viagem e pros preparativos. Eu te desejo boa sorte."- e virou as costas. Ela pareceu suspirar por um momento, mas em seguida seguiu seu caminho, saindo da hospedaria.

Jun leu o papel, em silêncio. Pensava, em seu intimo, "O orgulho venceu".

No papel, com a caligrafia do velho, estava o endereço de uma hospedaria em Kyoto chama Ikeda, e o nome do contato que faria o debriefing da missão.

quinta-feira, 28 de maio de 2020

A menina que Dança - 07

Como uma geisha, muito do trabalho de Suzuka era ouvir e confortar. Todas as noites, na casa de chá, ouvia uma nova história de perda, dor, sofrimento. A jovem maiko tinha como principal dever trazer luz aquelas pessoas que estavam presas em locais escuros, e permitir, mesmo que por apenas uma noite, que elas pudessem sorrir. Aliviar o fardo que curvava os ombros cansados e aproveitar a noite, com boa bebida, boa música, e boa companhia.

Até então, Suzuka sabia que viviam tempos difíceis graças a quantidade de tragédias pessoais que ouvia toda noite. E a gravidade das histórias também havia saltado. Mas até então, Suzuka era uma espectadora. Assistia o mais trágico espetáculo da história de seu país, sem até então ser afetada por ele.

Porém, naquela noite, o Bakumatsu se fez real. O caos de balas e espadas, as convulsões de morte do xogunato finamente alcançaram a geisha, e nela deixaram sua marca. Memórias gravadas a ferro no coração de uma jovem de apenas dezenove anos. Um lago de sangue no caminho para o trabalho. Um pedido de ajuda de um moribundo. Os olhos rigorosos de um matador. O último suspiro de uma pessoa jovem. Sangue voando. Risadas maliciosas de um monstro. Violência no seu corpo. A salvação pelas mãos de um assassino.

A era das trevas havia lhe alcançado e cravado suas presas profundamente. E Suzuka Ohgo carregaria com ela essas cicatrizes pro resto da vida.

Pensou em Gensai e nas palavras que ele lhe disse. E orou em seu íntimo, que ele tivesse razão, e a nova era chegasse logo.

Com o espírito quebrado, a Geisha se recompôs e caminhou de volta pra casa. Não teria condições de honrar com seu trabalho hoje. Ela era o conforto de almas perdidas, mas hoje, era o coração dela que precisava ser confortado.

Quando chegou em casa, pôs a água do banho para esquentar, e serviu a si mesma uma pequena dose de saquê. Uma pequena fuga, para uma grande dor.

Quando a água ficou quente, desatou o nó de sua obi e deixou a yukata cair, expondo a pele branca e deixando-a se arrepiar com o frio súbito.

-"boa menina"

Se ajoelhou. Cobriu-se novamente. Entrou na banheira coberta com suas roupas. Tinha o rosto quente de lágrimas. Lembrou-se do membro sujo do homem, ereto e pulsante, a sua frente. O cheiro podre que lhe enojava. As risadas maliciosas. A dor da mão agarrando seus cabelos.

Lembrou-se de fechar os olhos e abrir a boca. Aquele segundo de expectativa onde a sua violência foi real. Onde ainda não estava salva. Virou-se subitamente para não sujar a banheira, pegando o balde que usava para recolher os dejetos e vomitou dentro dele.

Colocou o balde tropegamente no chão e afundou até os ombros na banheira.

A imagem de Gensai salvando-lhe acabou por lhe trazer paz. Isso era possível? Era possível encontrar paz e tranquilidade na imagem de alguém sendo morto? Isso fazia dela uma má pessoa?

E Gensai? Quem era Kawakami Gensai? Um monstro assassino ou um paladino da justiça? Havia visto duas faces do mesmo homem em uma noite. A espada impiedosa e a lâmina da salvação. Os olhos rigorosos de ódio e a voz terna e triste. O que deveria pensar dele? Deveria amá-lo? Ou temê-lo? Apenas lhe era grata.

Deitou-se nua em seu futon¹ e não percebeu quando adormeceu, para sonhar com cerejeiras e andorinhas.


¹- "cama" japonesa. Um colchão fino, fácil de enrolar e guardar.

Noite Carmim - 07

Toshiro havia se alimentado antes de sair, agora era tarde e uma boa alimentação durante a manhã seria o suficiente. Toshiro então responde para Asami:
-- Obrigado Asami-san, comerei de manhã. A água está ótima e vou recolher-me em seguida. Obrigado e bom trabalho. Toshiro expressou sua opinião de maneira relaxada. Depois de tudo o que ocorreu o relaxamento do ofurô foi importante para limpar a mente ocupada de Toshiro.
Por um momento Toshiro reflete durante o banho:
+ houve justiça ao realizar a ordem do Daimyo;
+ ele havia sido corajoso ao enfrentar o homem e ao perseguir a mulher que clamava por ajuda;
+ houve compaixão ao tirar a vida deles rapidamente e com pouca dor;
+ havia sido cortês e amável com Asami-san;
+ não havia sido totalmente sincero com Asami-san sobre o chá, e isto o incomodava, no dia seguinte teria que dizer isso para Asami-san, pois precisava saber se era aquela receita que ele não gostou ou se era ruim mesmo e não foi sincero, apenas a verdade faria com que Asami-san se tranforme em uma versão melhor de si mesma;
+ atendeu aos requisitos da honra ao clamar pelo seu oponente, porém ele era desonrado e não era algo de orgulho para Toshiro;
+ também atendeu aos quesitos de dever e lealdade, sim até aqui tudo bem.

Para Toshiro a reflexão era importante, era um trabalho difícil ser um samurai, mais difícil que as pessoas imaginavam. Seguir o Bushido era trabalhoso e demandava ajustes as vezes em pequenas coisas do dia a dia. Toshiro não era perfeito, porém se esforçava a respeito disto.
Pensando em esforço, Toshiro lembra-se de sua espada, precisava conferir a limpeza da mesma. O processo seria rápido e também o sono estava chegando. Antes de sair da água quente para olhar a espada Toshiro pensa em suas roupas, haveria sangue ou evidências para encobrir, então puxa a roupa suja para a água quente da banheira, a água ajudaria a soltar alguma coisa e poderia inspecionar se haviam manchas que precisavam de um pouco de sabão. O banho de Toshiro demora um pouco mais e então trabalha na espada. Quando Toshiro acaba está mais enrugado do que esperava ficar.
Toshiro fica ansioso para dormir e espera que o sono venha logo.

No outro dia de manhã durante o desjejum o homem que passou informações comenta que Toshiro fez o serviço e deve permanecer discreto. É isso o que ele pretende fazer. A resposta é um mero balançar de cabeça afirmativo.

Agora era o momento de Toshiro permanecer discreto e tranquilo, pensando nas coisas que precisavam acontecer para tonar o pais um lugar melhor. Os treinamentos com a espada deveriam acontecer dentro do quarto, já a preparação física de Toshiro poderia ser com caminhadas em morros ou até exercícios físicos de carga. Toshiro já havia feito isso e precisava executar o plano. Fazer o serviço ainda não estava completamente pronto até tudo acontecer e isso inclui sumir da vista dos guardas do Xogunato, para isso meditação e treinos no quarto seriam suficientes.

Toshiro tinha alguns objetivos pessoais, porém não sabia como poderia realizar tais objetivos no momento. Como poderia constituir uma família naquelas condições? Onde conheceria uma mulher para tal finalidade? O que o destino reservaria para Toshiro?

quinta-feira, 14 de maio de 2020

Sobre Cães e Lobos - 07





“AS PESSOAS SÓ IRÃO ENTENDER UMAS ÀS OUTRAS QUANDO SENTIREM A MESMA DOR”

A menina viu a apresentação da Gueisha e a aplaudiu animada, ela tocava muito bem e tinha uma voz incrível. No fundo, ela sentia um misto de admiração e inveja por Yuri, queria ter sido uma mulher graciosa como ela. Mas por ter esse jeito de moleca, era facilmente confundida com um homem. Akemi suspirou resignada, por causa disso não percebeu a intenção da piscada maliciosa da jovem.

Quando acabou a apresentação, Yuri voltou a sentar do seu lado e lhe oferecia sakê, mas a jovem recusava timidamente, alegando ter baixa resistência a bebida alcoólica. Já estava de madrugada e os homens ainda estavam entretidos com a festa. Quando o Capitão Harada anunciou que iria se recolher, Akemi aproveitou a oportunidade para sair e tomar o tão desejado banho de água quente. Ao se despedir da Yuri, ela cora e fica sem jeito.

Na rua Akemi vê o Capitão cambaleando de bêbado, a jovem se prontificou a ajudá-lo, colocando o braço dele sobre seus ombros, enquanto com a outra mão estava apoiada na cintura do homem. Essa aproximação fazia o coração da jovem bater mais rápido. O homem falava enrolado de tão bêbado que estava e apesar de estarem próximos no quartel, ele não poderia entrar daquele jeito ou seria punido. E ela também não aguentaria carregá-lo por muito tempo, então Akemi desviou o caminho e parou perto de onde os cavalos bebiam água. Ela precisava deixá-lo sóbrio, colocou ele sentado e apoiou suas costas numa parede. A jovem enchia as mãos de água e passava na nuca do rapaz. Então reparou no kimono aberto dele e começou a corar violentamente ao observar os músculos definido.  As faixas que cobriam seu abdômen estavam frouxas e mostravam uma grande cicatriz

- Senchõ...como ganhou essa cicatriz?- Disse de maneira tímida

Mestre mode on:
Ele fica sério de repente. Silencioso, embora estivesse fazendo vários gracejos durante o caminho. Ele acertas as faixas com a mão livre, escondendo a cicatriz.
Depois de alguns momentos de silêncio constrangedores, ele diz em voz baixa.



"Veio de outra cicatriz maior. Mas nem toda cicatriz é visível."


- Me desculpe...-se afastou constrangida, mas entendia o que ele dizia- O senhor consegue andar?

Mestre mode on:
Ele ergue a cabeça e te olha por um segundo.


"Você é um bom rapaz, Ishida."

Sobre Cães e Lobos 2eumn3q

Ele se levanta e agradece, e caminha sozinho, embora trôpego, ao alojamento.

Ainda bem que ele não viu a jovem corar com aquele comentário. Quando chegasse ao quarto, iria buscar suas roupas discretamente e sairia de fininho, de preferência sem ser vista por ninguém. No banheiro iria checar se ele estava realmente vazio, se tivesse alguma maneira de trancar ou bloquear a porta ela faria. Quando se sentisse relativamente segura de que ninguém a veria a jovem começa a retirar as roupas e solta os cabelos castanhos que estavam na altura do queixo. Ela passa as mãos nos cabelos para desembaraçar os fios e sente falta de quando eles eram longos e bonitos que nem da Yuri.

"Se eu fosse bonita como ela, eu também teria vários homens interessados em mim."- Pensou um pouco chateada por sua falta de atrativos femininos

Sobre Cães e Lobos Ylz01

A jovem entra no ofurô e sente a água quente cobrindo o corpo. Fazia tempo que não tinha um tempinho só para si e relaxar. Repassou mentalmente os acontecimentos daquela noite, seu encontro com a Gueisha e o interesse dela por Akira e sobre o capitão Harada, normalmente ele era uma pessoa alegre, mas esta noite ela conheceu um lado sombrio  dele que não conhecia. Confusa com seus sentimentos a menina mergulha na banheira, para afastar todos aqueles pensamentos.

A água quente fazia maravilhas pelo corpo cansado de Akemi. Ainda tinha os braços pesados do dia anterior. Parou pra refletir por alguns breves momentos. Matar não era tarefa fácil. Quando treinava com seu irmão, imaginava que trilhar o caminho da espada era algo heróico, repleto de façanhas e aventuras. Pensa-se em matar inimigos, mas são sempre entidades malignas e imaginárias, vilões terríveis que encontram um fim justo na lâmina do herói. Nada pode realmente te preparar pra ver a luz deixar os olhos de alguém. Nada realmente pode te prevenir de sentir o peso da responsabilidade de pôr fim a uma vida. E a cada vida que sua lâmina ceifava, Akemi sentia como se algo fosse levado dela própria. Tinha medo de um dia se tornar insensível aquilo e simplesmente parar de se importar.


Mas hoje, ainda sentia o peso dessa responsabilidade. E na noite de ontem, ela havia posto fim a vida de um dos homens do bando de ladrões. Um cavalariço, mais velho que ela. Ele estava vigiando os cavalos, e teria fugido se Akemi não o tivesse alcançado a tempo. Ele a teria matado se ela não reagisse. Ainda era capaz de sentir a lâmina cortando o peito do homem. A sua técnica havia sido perfeita: desviara do golpe do inimigo, movendo-se lateralmente para a abertura em sua guarda. Em seguida, desferindo-lhe um golpe vertical contra a jugular exposta. Seus mestres ficariam orgulhosos da execução perfeita, mas quando a chuva de sangue lavou-lhe o rosto, Akemi retornou à realidade. Havia ceifado uma vida. Vilão ou não, aquilo era responsabilidade dela. E ela sentia o peso dessa responsabilidade, incapaz de dissolvê-la na água quente da banheira.
Foi quando ouviu a porta ranger e um ruido de madeira estalando. Havia colocado uma vassoura bloqueado a porta corrediça que dava entrada ao banheiro, mas aparentemente, o cabo quebrou quando forçaram a porta, e agora alguém entrava.


O ambiente estava repleto de vapor, e não era possível ver bem. Mas a voz de um Yamada tremendamente bêbado ecoou pela sala de banho.
-"Maldita vassoura! Quem diabos a colocou ali?"- praguejava em voz alta, caminhando em direção à banheira.
Estava completamente nu, pelo que Akemi podia ver. A visão de seu membro viril fez-lhe corar até as orelhas.
-"Hã? Ishida? Quem diria, eu achei que você não tomasse banho."- disse, e riu alto, enquanto sentava-se nu num banquinho, enchendo o balde com água.

Ultima Postagem

Vento Divino - 09

Com a resposta de Nanami, Jhun apenas a observou indo embora... quando ela sumiu na multidão, ele disse em tom quase inaudível. Jhun: Adeus,...

Mais Visualizadas